Coronavírus: entenda o impacto da pandemia na economia mundial
E o Brasil, como responde economicamente à crise sanitária que se abateu sobre o mundo? Entenda a seguir com a entrevista do Coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, prof. Dr. Ricardo Balistiero
O Coronavirus mudou não só os hábitos das pessoas mas também a economia do país. O especialista da Mauá comenta sobre esse cenário.
Mais de um terço da população mundial está em quarentena por causa da pandemia de Coronavírus, cientificamente conhecido como Covid-19, que vem fazendo milhares de vítimas fatais diariamente. No Brasil, a medida é preventiva e busca evitar que o vírus contamine ainda mais pessoas e faça o sistema de saúde entrar em colapso, sem capacidade suficiente para atender a todos os que precisam, enquanto Estados Unidos e Japão batem recordes de novos casos. Diante desse cenário, os efeitos econômicos começam a aparecer e provocar retrações em diversos segmentos. Conversamos com o Coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, prof. Dr. Ricardo Balistiero, especialista na área, para entender o impacto de toda essa situação em nossa economia.
Prof. Dr. Ricardo Balistiero comentanta sobre o cenário economico e impactos que o Coronavírus tem causado.
Como você encara os efeitos econômicos da pandemia de Covid-19 que se abateu sobre o mundo?
Vejo com preocupação o que está acontecendo, principalmente pelos profissionais liberais, pelas micro e pequenas empresas e trabalhadores informais. O governo demorou para apresentar um pacote de medidas para distribuir renda para esses trabalhadores. Serão 600 reais durante 3 meses, o que é claramente insuficiente. O governo deveria pensar em estender o prazo para 1 ano, para evitar que as pessoas caiam na miséria. Deveria ser um tratamento de choque e rápido. É uma situação dramática, que vai pedir endividamento do governo. Não há como. O governo tem sido muito tímido na concessão do benefício e o mercado tem percebido, como prova o comportamento do dólar e da bolsa. As medidas tomadas pelo Brasil estão atrás das que foram atitudes de outros governos, seja no reconhecimento da pandemia, seja até a reação econômica.
Qual vai ser o impacto da pandemia na economia brasileira?
A economia brasileira já está sendo muito afetada. Até um tempo atrás projetava-se um crescimento de até 2% e, neste momento, o Banco Central ajustou esse crescimento para zero. A hipótese mais provável é que tenhamos uma recessão, que é tudo aquilo de que não precisávamos neste momento, após um forte período de queda do PIB, em 2015 e 2016. Só vivemos essa situação na década de 1930. Tivemos um crescimento muito lento e agora enfrentamos uma crise que não estava no radar, mas é uma realidade que vamos ter de enfrentar e, assim como outras economias enfraquecidas, como a da Argentina, por exemplo, teremos muita dificuldade para superar.
Podemos esperar uma recuperação para os próximos anos?
Não vai ser um período fácil: vai haver aumento de desemprego, redução da massa salarial e outras dificuldades previstas para 2020, agora potencializadas pela crise e pela resposta confusa do Governo Federal. O Brasil e o mundo não estavam preparados para uma pandemia dessa magnitude. Aquela expectativa de retomada do crescimento para 2020, portanto, terá de ser adiada por algum tempo. Não acredito que assistiremos a uma recuperação econômica cíclica e consistente durante o governo Bolsonaro. As respostas do nosso governo à crise não contribuem em absolutamente nada para isso. Como exemplo podemos citar as confusões do filho do Presidente em relação à China, nosso principal parceiro comercial, bem como as falas do Presidente, que contradizem as recomendações da Organização Mundial da Saúde (que estão sendo seguidas por 156 países), bem como as recomendações do próprio Ministério da Saúde do Brasil. Lamentavelmente, essa questão de saúde pública está sendo politizada, o que atrasará a busca por soluções consistentes, que pedem ações coordenadas de combate à pandemia e de auxílio aos mais necessitados.
O impacto econômico da pandemia vai ser sentido apenas no Brasil?
O abalo vai ser sentido em proporções planetárias, já que a doença começou isoladamente na Ásia, depois ganhou a Europa e América numa velocidade exponencial. Todas as estimativas para o crescimento econômico de 2020 estão sendo revisadas pelas principais agências e bancos centrais do mundo. Imagina-se que a China possa ter uma recuperação relativamente rápida agora que conseguiu reduzir a praticamente zero as novas contaminações e têm bastante dinheiro em caixa. É possível que consigam, mas há uma elevada probabilidade de recessão mundial. Mesmo se a China crescer, não se sabe o impacto de tudo isso na Europa e nos EUA, que já vinham numa tendência de recessão e, agora, aparece um contorno ainda mais dramático.
Quais serão os setores mais atingidos pela crise econômica em decorrência da pandemia?
Inicialmente os setores afetados são aqueles que dependem de cadeias produtivas globais que têm a China como principal fornecedor, como o de eletrônicos, mas certamente o impacto inicial maior é na aviação e no turismo. As perdas desses segmentos já são bilionárias e será necessária a injeção de muito dinheiro para a recuperação. Para o turismo é devastador quando as pessoas não saem de casa. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, a aviação ficou paralisada por alguns dias e algumas empresas rapidamente ficaram insolventes. A crise atual é de magnitude ainda maior, portanto o setor será afetado em proporções jamais vistas.
Existem alternativas para as empresas não pararem diante do cenário em que estamos?
Na era da tecnologia, o home office é uma saída. É claro que os negócios vão ser reduzidos, mas o trabalho remoto é uma possibilidade, como adotamos na Mauá e como estão fazendo escolas e outras empresas. É possível usar a tecnologia para trabalhar de casa, onde devemos permanecer em distanciamento social para evitar níveis de contaminação catastróficos, como os que temos visto no mundo. É uma forma de se evitar que as operações parem, de os funcionários manterem as suas ocupações e as empresas, algum nível de atividade.
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