Professor do curso de Engenharia Elétrica do Instituto Mauá de Tecnologia comenta sobre o coração artificial 100% brasileiro
Após dez anos de pesquisas, os primeiros cinco equipamentos de assistência ventricular serão implantados em pacientes humanos
100% artificial. Entenda como esse coração funciona.
A bioengenharia pode ser entendida como a aplicação de engenharia com a finalidade de criação de equipamentos e dispositivos elétricos, eletrônicos e mecânicos aplicados na área médica. Um de seus segmentos tem como objetivo oferecer opções para a manutenção e suporte à vida. No Brasil, a prática teve seu início nos anos de 1970. O doutor Adib Jatene foi um dos precursores e é justamente no Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, onde atua a Fundação Adib Jatene, que um coração artificial está pronto para ser usado em pessoas.
Júlio Lucchi, professor do curso de Engenharia Elétrica do Instituto Mauá de Tecnologia, participou da primeira equipe responsável pelo projeto do aparelho. ?Tive a oportunidade de contribuir no projeto do controlador eletrônico, ainda durante meu doutorado?, conta.
Composto de titânio, aço inoxidável e poliuretano, o aparelho de assistência ventricular foi inteiramente desenvolvido no Brasil num projeto que começou há mais de dez anos. Inicialmente testado em bezerros, o equipamento é implantado na altura do diafragma e os tubos saem para o lado de fora, conectando a máquina a uma bateria e um controlador. ?Já é comum o uso de dispositivos assistentes que auxiliam a circulação, no que chamamos de assistência ventricular, até que o paciente consiga o transplante de um coração natural?, explica Lucchi.
A ANVISA (Agência nacional de Vigilância Sanitária) aprovou teste clínico em cinco pessoas e a experiência será promovida pelo Instituto Dante Pazzanese. Os dois corações, o natural e o artificial, funcionarão paralelamente. Se houver algum problema na máquina, o coração natural assume o trabalho até que a máquina seja substituída, o que diminui os riscos do implante. ?A inovação do projeto está no fato de que é possível dar assistência biventricular a partir da mesma estrutura. O aparelho pode ser montado para dar assistência a um ventrículo, ou biventricular. No momento da cirurgia, pode-se ter as duas estruturas à disposição e creio que até será possível decidir entre um apoio para o ventrículo esquerdo ou para ambos? comenta o professor da Mauá.
O equipamento é indicado para pessoas com insuficiência cardíaca grave e que já não respondem mais ao tratamento clínico. Atualmente, 99 pessoas no estado de São Paulo estão na fila de espera de um transplante, das quais 32 apenas na capital, segundo dados da Secretaria de Saúde. O objetivo é que o coração artificial auxiliar possa ser distribuído de graça aos pacientes, pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O coração artificial, que agrega alta tecnologia e está sendo construído de forma quase artesanal num laboratório especializado no Dante Pazzanese, deverá custar de R$ 60 mil a R$ 100 mil. O aparelho foi desenvolvido com o apoio do Hospital do Coração, do Ministério da Saúde, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
|