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Perspectivas Econômicas para 2012
Prof. Otto Nogami, Economista, professor do IMT/CECEA
O momento pelo qual passa a economia mundial é de grande estresse. O governo dos Estados Unidos apresenta um alto nível de endividamento, o que dificulta a execução de programas antirrecessivos, enquanto na União Europeia há forte desequilíbrio entre seus integrantes, mais especificamente entre os países que adotam o Euro, o que cria uma expectativa de queda na atividade econômica para os próximos meses, senão anos. O Japão continua convivendo com uma economia estagnada há quase duas décadas, e o governo chinês resolveu frear o forte processo de crescimento apresentado nos últimos anos. O estresse a que me refiro é, portanto, a somatização de todos esses problemas que levam a uma estagnação e queda da atividade econômica.
Estagnação, colocada de maneira simples, é o não aumento no uso dos recursos produtivos – capital, mão-de-obra, matérias-primas – por parte das empresas e governos, o que leva a um aumento do desemprego, pois a população continua crescendo com crise ou sem ela. A queda na atividade econômica, por sua vez, leva a consequências piores, pois reduz o uso dos recursos produtivos e baixa ainda mais o nível de empregabilidade da economia. Imaginemos de outra maneira: crise significa queda no nível de consumo geral de um país (das pessoas, do governo, das empresas e também das pessoas que moram em outros países), o que gera menos produtividade nas empresas. E, à medida que isso ocorre, menos pessoas serão contratadas; consequentemente, o consumo da sociedade será afetado.
Diante desse cenário, o que podemos esperar do Brasil para o próximo ano? O governo há alguns meses vem tomando medidas com o objetivo de tirar o País da rota da crise, ou de minimizar seus efeitos sobre a nossa sociedade. A primeira delas, que sempre foi cobrada ao longo dos últimos anos, diz respeito à redução da taxa de juro Selic, taxa de juro referencial da economia e balizadora dos ganhos em aplicações financeiras, bem como para as empresas para a execução de investimentos a fim de aumentar a capacidade de produção e de melhorar os processos. Essa queda na taxa de juro é também importante, pois reduz o custo dos empréstimos e financiamentos, tornando as prestações mais baratas. O efeito dessa queda pode levar a um aumento no consumo das famílias, bem como fazer com que as empresas invistam mais e, assim, aumentar o número de postos de trabalho na economia.
Outra medida importante do governo foi a decisão de reduzir o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para eletrodomésticos, como geladeiras, fogões e máquinas de lavar. Outros produtos também foram beneficiados, tais como o pão, macarrão, palha de aço e papel sintético. E podemos ter a certeza de que, se necessário for, o governo ampliará o rol de produtos beneficiados com a redução da carga tributária. Com essa medida. o governo baixou um pacote para estimular o crédito, reduzindo o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), além de zerar o imposto para o investidor estrangeiro que adquirir ações na bolsa. Isso tornará mais baratas as prestações das compras a prazo e o rotativo dos cartões de crédito e financiamento na aquisição de automóveis.
As obras para o Campeonato Mundial de Futebol em 2014 e as Olimpíadas em 2016, apesar de estarem distantes, também são importantes nesse prognóstico para 2012. Afinal, todo o conjunto de obras para a construção dos estádios onde serão realizados os jogos e obras de infraestrutura como ampliação ou construção de novos aeroportos, construção e melhoria do sistema de transporte de passageiros, demandará mais mão de obra e materiais, que farão toda a cadeia produtiva crescer. Temos de enxergar que esses eventos não envolvem apenas as obras onde eles serão realizados. Mexem com toda a sociedade. Ampliação da capacidade hoteleira, aumento da frota de transporte de passageiros, qualificação dos profissionais até mesmo dos estabelecimentos de lazer e taxistas.
Assim, nesse contexto, podemos esperar um comportamento da economia brasileira, em 2012, um pouco diferente do que enxergamos para os países listados no início. Apesar de os analistas econômicos estimarem um crescimento de 3,5% para o próximo ano, o governo afirma que está preparando-se para um crescimento de 5%, mesmo com a crise assolando a economia mundial. Isso é ótimo para todos nós. Entretanto dois detalhes preocupam: apesar de toda a perspectiva de crescimento no nível de consumo das famílias, o setor produtivo da nossa economia está preparado para atender esse aumento de demanda? Se não estiver, voltaremos a conviver novamente com o fantasma da inflação. À medida que o governo reduz a carga tributária e, consequentemente, a sua arrecadação, ele reduzirá também suas despesas? Se não, aumentará ainda mais o endividamento do governo, tornando mais vulnerável a nossa economia a exemplo do que ocorre na Europa.
Feliz 2012.
Otto Nogami Economista, professor do IMT/CECEA
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