edição 17 | Outubro de 2010    

MAUÁ apresenta ciclo de palestras para discutir a infraestrutura do País

O pesquisador Rossano Gambetta apresentou o primeiro tema: sobre os biopolímeros


Dr. Rossano Gambetta deu inicio ao ciclo de palestras ‘Discussões sobre a Infraestrutura Nacional’

Teve início em 14 de setembro, às 19h, no campus do Instituto Mauá de Tecnologia, em São Caetano do Sul, o Ciclo de Palestras promovido pela instituição. Ancorado no tema "Discussões sobre a Infraestrutura Nacional", o primeiro encontro abordou a questão dos biopolímeros e “polímeros verdes”: o que são e como podem contribuir com a sustentabilidade. A apresentação foi feita pelo pesquisador, Dr. Rossano Gambetta.

Presentes à mesa de debates, na sequência da palestra, o Pró-Reitor, Professor Doutor Roberto Aguiar Peixoto, e o professor do curso de Engenharia Química, Laerte do Nascimento, enriqueceram a noite levantando questões relacionadas com a sustentabilidade e esclareceram dúvidas da plateia.

O professor Laerte preparou para a InfoMauá um resumo com os principais pontos discutidos no encontro. Confira abaixo.

Os diferentes tipos de polímeros e sua relação com a sustentabilidade

“Polímeros são moléculas de alta massa molecular essencialmente estruturadas por múltiplas unidades de repetição, derivadas de moléculas de baixa massa molecular”. Embora tecnicamente correta, essa definição não permite que o público em geral compreenda o que é um polímero. Um exercício interessante talvez seja darmos menos importância ao rigor físico-químico e à formalidade e mais valor ao entendimento. Podemos dizer, então, que “Polímeros são normalmente moléculas enormes (macromoléculas), geralmente milhões de vezes maiores que a média das ‘moléculas comuns’. Eles são formados pela união relativamente organizada (por meio de reação química), de milhares ou, mais comumente, milhões de um ou mais tipos de moléculas menores”.

Essas moléculas menores que se unem ou reagem quimicamente para formar o polímero, também chamado macromolécula, são os chamados monômeros (tijolos com os quais os polímeros são construídos, sempre levando em conta que, na maioria das vezes, um polímero comercial, ou seja, conhecido como “plástico”, tem milhares de vezes mais moléculas de monômeros do que uma casa tem de tijolos). Quando apenas um tipo de molécula monômero é usado na construção do polímero o mesmo é chamado de homopolímero. Quando dois ou mais tipos de moléculas monômeros reagem para produzir um polímero, ele é chamado de copolímero, porque existe a polimerização conjunta de dois, três ou mais tipos de moléculas monômero para gerar o polímero. Polímeros comerciais (“plásticos”), raramente têm mais de três ou quatro diferentes tipos de moléculas monômero na sua formação. Na quase totalidade dos polímeros comerciais, os monômeros são provenientes ou derivados do petróleo (etileno, propileno, buteno etc.) e quase todos os polímeros comerciais não são biodegradáveis.

Biodegradáveis? Sim, polímeros biodegradáveis são aqueles que podem ser degradados, ou “destruídos” pela ação de micro-organismos. É como se a “construção polímero” pudesse ser demolida pelos micro-organismos que vão retirando os “tijolos ou blocos de tijolos” (moléculas monômero ou conjunto delas). Infelizmente, como se mencionou acima, a maior parte dos polímeros comerciais não são biodegradáveis. Caso fossem, nosso grave problema de poluição por material poliméricos, os “plásticos”, estaria, em grande parte resolvido.

Por que não fabricamos somente polímeros biodegradáveis? Porque eles não têm as mesmas propriedades químicas e físicas que os polímeros comerciais que nós utilizamos. A maioria dos polímeros comerciais, devido às suas características de desempenho e aplicação não podem, ou pelo menos ainda não, ser substituídos por polímeros biodegradáveis. Existem outras soluções para a poluição provocada pelo plástico? Sim, a reciclagem, que pode ocorrer por vários meios - como a reciclagem mecânica, a química e a térmica (queima).

E os biopolímeros, o que são? Biopolímeros são polímeros “produzidos por micro-organismos”, mas isso não quer dizer necessariamente que sejam destruídos pelos mesmos ou por outros tipos de micro-organismos. Ou seja, nem todo biopolímero é biodegradável. Os biopolímeros, ao contrário da maioria dos polímeros comerciais, não são produzidos em plantas petroquímicas, mas pela ação microbiana e tem baixa ou baixíssima produtividade, altos custos de produção e aplicação prática restrita; e repetindo: não são necessariamente biodegradáveis. Pesquisas com esses processos de obtenção de polímeros continuam, mas a realidade atual ainda é esta. Também não é uma verdade que os polímeros verdes sejam a salvação de todos os problemas ambientais.

Os polímeros verdes, como o etileno verde (proveniente do etanol), ou o propileno verde (proveniente de glicerina, um subproduto do biodiesel), são polímeros que têm a mesma estrutura, “são feitos com os mesmos tijolos” ou das mesmas moléculas monômero que os polímeros feitos com os monômeros provenientes ou derivados do petróleo; apenas a origem da molécula monômero é outra, mas a molécula monômero é fundamentalmente a mesma. Ou seja, o polietileno verde não é menos biodegradável que o polietileno convencional, ou seja, em termos práticos, ambos são não-biodegradáveis, porque depois de prontos são a mesma coisa: o mesmo polímero, a mesma macromolécula, mesmo plástico.

A grande vantagem dos polímeros verdes está na sua origem renovável, ou seja, o etileno proveniente da desidratação do álcool etílico ou etanol, ou ainda álcool de cana, vem de uma fonte renovável, ou seja, a cana de açúcar pode ser plantada novamente e o etanol, ou álcool da cana, produzido novamente, fechando um ciclo. Essa característica traz à tona a discussão da sustentabilidade. O polímero obtido de uma fonte renovável é aquele no qual todo o carbono constituinte de sua estrutura, isto é, todo carbono de suas moléculas monômero se originou do Gás Carbônico (CO2) atmosférico, o que quer dizer que esse carbono veio de uma planta, de um vegetal que, ao realizar fotossíntese, incorporou o carbono do CO2 atmosférico.

Isso significa também que, se, depois de usado, esse plástico passar por uma reciclagem térmica ou queima, o Gás Carbônico (CO2) gerado na sua queima pode ser incorporado por um vegetal (provavelmente a cana de açúcar), e que poderá transformar-se novamente no etanol, que será desidratado gerando novamente o etileno, podendo gerar outra vez o polietileno. Ou seja, podemos ter um ciclo que será sustentável. Balanços materiais e energéticos precisam ser ainda aprimorados e levar em conta realmente todas as variáveis, mas a sustentabilidade pode ser atingida.

Sustentabilidade consiste em poder realizar uma atividade sem limite de tempo, sem que isso cause degradação do meio ambiente (aumento de poluição, aumento de concentração de gases de efeito-estufa), sem exaurir os recursos naturais, sem provocar destruição de fauna e flora. Mas, para que a sustentabilidade seja verdadeiramente atingida e consolidada, não existe mágica como querem alguns.  Não há solução fácil para um problema tão difícil. Sustentabilidade é um tema que está na moda, uma palavra usada amplamente nas propagandas, de forma muitas vezes oportunista e irresponsável, apoiada em meias-verdades. É preciso que ocorra uma mudança real. É preciso que a população mundial exija fortemente dos governos a decisão política de buscar a verdadeira sustentabilidade, que a sociedade e os governos cobrem das empresas a pesquisa, o desenvolvimento e a implementação de tecnologias limpas, mais seguras em termos de processos e, claro, muito mais seguras do ponto de vista ambiental.

Cabe também às instituições financeiras (principalmente aos grandes bancos), financiarem de maneira significativa e eficaz este tipo de atividade, nem que para isto seja necessária também a ação governamental e a pressão da sociedade.


Palestra na Mauá abordou a questão dos Biopolímeros e Polímeros Verdes
Site da Mau�  Twitter  Facebook  Youtube  Flickr  Google+  Blog da Mau�
Esta newsletter é uma correspondência autorizada pelo destinatário. Caso você deseje cancelar o recebimento, envie uma mensagem para comunicacao@maua.br com o assunto (subject) CANCELAR. Sugestões e comentários são bem-vindos e devem ser encaminhados para comunicacao@maua.br