INFOMAUÁ Mauá
edição 124 - Julho de 2021

Inflação e geração de empregos: quais são as perspectivas para o segundo semestre?

Influenciado pelo calendário eleitoral, o panorama para a segunda metade do ano ainda é incerto

O Brasil passa por uma descoordenação política e econômica, situação que dificulta a entrada do País numa rota de investimentos

O Banco Central (BC) costuma divulgar toda segunda-feira o Relatório Focus, que traz as estimativas do mercado para os principais indicadores econômicos do País. Nesta semana, a expectativa medida pelo IPCA, "taxa-mãe" da inflação, acelerou novamente, indo de 5,90% para 5,97% em 2021. Além da inflação em alta, as taxas de desemprego também batem recorde no País e atingiram 14,7% no primeiro trimestre de 2021. Para compreender os fatores que motivam as altas taxas, o entrevistado desta edição da InfoMauá é o Prof. Dr. Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia.  

De acordo com o Professor, quatro fatores principais podem explicar os motivos pelos quais a inflação está acima do teto da meta neste primeiro semestre. São eles: a alta forte do dólar no último ano, o preço dos alimentos, a tarifa vermelha da energia elétrica e, mais recentemente, o aumento nos preços da alimentação fora de casa.

Sobre a perspectiva dos índices de desemprego, Balistiero reforça que a recuperação econômica de 2021, diferente de outras ocasiões, não está-se dando com a geração de empregos e o impacto da alta inflação nas taxas de empregabilidade é muito forte. "Com a inflação alta, o Banco Central é obrigado a subir juros. Se por um lado essa medida é importante para baixar o câmbio, por outro torna o crédito mais caro, principalmente para pessoas e empresas já endividadas", comenta o Professor. Em decorrência disso, as empresas têm suas dívidas aumentadas, o que retarda a retomada do crescimento. Preocupadas com a saúde financeira, boa parte das companhias não se enxergam num ambiente propício para novas contratações.

Prof. Dr. Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia

Por outro lado, a tendência para o segundo semestre é a de que a inflação sofra uma desaceleração ao longo dos próximos meses. "Isso não significa, no entanto, que as taxas serão convergidas para o centro da meta. Se o Banco Central conseguir cumprir a meta de inflação neste ano, a expectativa é que seja mais perto do teto, por volta dos 5,25%", aponta Balistiero. Segundo o especialista, também é importante compreender que a situação está fortemente vinculada ao calendário eleitoral que, se levado de forma irresponsável, pode acelerar as despesas do País e contribuir diretamente para uma aceleração das taxas inflacionárias até o final do ano. "Se o governo entrar num módulo de 'desespero', a situação ficará ainda mais complicada, pois o País passaria, simultaneamente, por uma recuperação econômica muito lenta, e com a inflação pela proa", reforça o especialista.

Para finalizar, Balistiero enfatiza que o Brasil passa por uma descoordenação política e econômica, situação que dificulta a entrada do País numa rota de investimentos, fator importante para a retomada do crescimento. Diante desse cenário, a estabilidade política, tanto interna quanto externa, é essencial. "Com a vacinação em massa e a expectativa de controle da pandemia, o principal responsável pela retomada econômica do Brasil, ainda que lenta, será o Banco Central que, em meio à descoordenação política, está conseguindo cumprir seu papel", completa.

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