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edição 118 - Novembro de 2020

Entenda como as eleições dos Estados Unidos podem afetar a economia no Brasil

Professor da Mauá Ricardo Balistiero aponta possíveis mudanças nas relações entre os países

Vitória de Biden sobre Trump pode impactar acordos comerciais com o Brasil

Neste novembro, os Estados Unidos entram na reta final das eleições presidenciais de 2020. Ainda não existe uma data definitiva para a divulgação do resultado da votação, mas pesquisas indicam que o candidato democrata Joe Biden está em vantagem. O republicano Donald Trump, no entanto, ainda tem chances de ser reeleito para mais quatro anos à frente do país.

A eleição não interessa apenas aos estadunidenses. No Brasil, o resultado pode impactar a economia de diferentes formas e a possível mudança de direção política daquele país vai impor novos desafios ao atual governo brasileiro. No entanto, o Prof. Dr. Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia, não acredita que a economia brasileira sofrerá efeitos negativos sérios com uma eventual mudança de presidente.

Balistiero destaca que atualmente existe um alinhamento do governo Bolsonaro ao governo Trump com base numa identidade pessoal e ideológica, mas essa aproximação entre os dois líderes não se estende automaticamente a um envolvimento entre os dois países. Por isso, a manutenção do atual presidente no cargo certamente traria mais tranquilidade ao Brasil até 2022, considerando os acordos assinados nos últimos anos.

Prof. Dr. Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia

Apesar dessa concordância, o professor da Mauá pondera que a reeleição não significa necessariamente um bom resultado para o Brasil. "Nesses últimos dois anos, a relação, que deveria ser diplomática, acabou sendo quase de admiração do presidente brasileiro por Trump, e os estadunidenses não apreciam esse tipo de postura: eles valorizam negociadores mais independentes e menos bajuladores. Além disso, é uma posição ruim para o Brasil, que é a 8.ª maior economia do mundo. Então essa relação precisa mudar", avalia o professor.

Como está, o apoio entre os países aparece muito mais no discurso e menos em ações práticas. “Isso fica claro em três eventos: a questão da entrada do Brasil na OCDE, que não se concretizou; a sobretaxa do aço brasileiro, imposta por Trump e a indicação da presidência do BID, quando um nome latino-americano (tradição na estrutura do banco desde 1959) foi 'atropelada' pelo governo Trump, com o apoio da diplomacia brasileira. Então, para trazer mais benefícios à economia brasileira, o relacionamento entre os países precisa de menos promessas e mais fatos concretos."

Analisando o outro resultado possível, a eleição de Biden poderia alterar a relação entre os países, mas Balistiero defende que não seria uma mudança negativa. "Biden é um político muito experiente e bastante prático; não acredito que ele queimaria pontes ou promoveria um distanciamento do Brasil", afirma. "As relações são pragmáticas. Alguns acordos podem ter de ser revistos, mas ainda se procura aquilo que é melhor para os dois países do ponto de vista comercial."

O professor ressalta, porém, que o candidato democrata citou o Brasil no primeiro debate na TV estadunidense de maneira muito negativa, especialmente quanto à questão ambiental. “Isso indica que Biden seria capaz de rever boa parte dos acordos comerciais. Não significa que será pior, mas que a negociação pode precisar de caminhos mais longos do que com Trump.”

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