edição 25 | Setembro de 2011    

A competitividade da indústria e o risco da inflação


Prof. Ricardo Balistiero, coordenador do curso de Administração da Mauá

O recente movimento de alta da taxa de câmbio brasileiro tem suscitado acalorados debates sobre os riscos para a estabilidade dos preços no mercado interno, após quase oito anos de forte utilização dessa variável como âncora dos preços internos.

A estratégia do segundo mandato do Presidente Lula conseguiu, considerada a abundância de liquidez externa, uma bem-sucedida política de utilização da taxa de câmbio como forma de manter a inflação dentro (ou muito próxima, em alguns anos) da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional.

A questão central, utilizando-se a premissa acima, é que a indústria, de modo geral, adaptou-se a uma taxa de câmbio gravitando no intervalo de R$ 1,50 a R$ 1, 70, que foi a banda na qual flutuou a paridade real-dólar nos últimos 24 meses. A despeito dos impactos sobre a competitividade do setor exportador, o barateamento dos insumos tornou-se um potente fator de competição do setor industrial, com sensível redução dos custos de produção.

O recente overshooting, aumento brusco, verificado no setor de câmbio, além das intervenções pontuais do Banco Central no mercado futuro de divisas, com o objetivo de evitar uma flutuação muito acentuada para cima no valor do dólar, pode trazer de volta um velho fantasma macroeconômico: a inflação.

Isso se verificaria exatamente pelo lado dos custos de setor industrial, adaptado que está a um nível de taxa de câmbio mais baixo, compensando, em parte, do ponto de vista dos custos, a perda de competitividade do setor exportador. É o que os economistas chamam de efeito contágio ou pass through.

Qual a terapia para controlar esse efeito colateral de depreciação acelerada? Num primeiro momento, o Bacen deve ter agilidade e colocar as reservas internacionais à disposição do mercado, mostrando que tem armas para lidar com a situação. Paralelamente, manter as operações de mercado futuro, sinalizando ao mercado que, a despeito de não assumir compromissos com um nível determinado para a taxa de câmbio, está atento para qualquer movimentação mais brusca.

Com essas ações firmes e vigilantes do Bacen, afastado o risco de repique inflacionário, a taxa Selic pode seguir sua trajetória de baixa, revitalizando o volume de crédito às pessoas físicas e jurídicas, levando a um pouso suave do câmbio e retomando, aos poucos, a competitividade dos nossos produtos industriais no mercado internacional.

Ricardo Balistiero

Economista e Coordenador do Curso de Administração

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