edição 20 | Abril de 2011    

A evolução das moradias e as casas sustentáveis do século XXI


Com as casas sustentáveis nada se perde, tudo se transforma

Até a década de 1960, as políticas habitacionais caracterizavam-se pela centralidade da produção direta pelo Estado e pela importância da produção de novas unidades para substituir casas construídas em áreas informais. A arquitetura modernista, desde suas primeiras manifestações, na década de 1920, havia buscado contribuir para a solução do problema de moradia, apostando na construção em massa, racionalizada, que permitiria a estandardização e a pré-fabricação, acelerando o desenvolvimento tecnológico da indústria da construção, reduzindo o preço da habitação e democratizando o acesso a habitações de dimensões mínimas, mas construídas segundo princípios de qualidade, salubridade e funcionalidade.

 Os conjuntos habitacionais de grande porte, construídos em áreas periféricas, buscando a padronização dos componentes e o barateamento dos custos de construção, inspirados nos princípios do modernismo e ancorados nas modernas técnicas construtivas, foram as principais soluções adotadas para enfrentar o problema habitacional brasileiro. No fim da década de 1960 até a metade da de 1970, com a Caixa Estadual de Casas para o Povo - CECAP e o Banco Nacional de Habitação - BNH, surgiram programas de autoconstrução, ou construção por ajuda mútua; porém, por terem si aplicados nas periferias das grandes cidades, as habitações logo eram abandonadas pelos moradores, que preferiam morar em favelas e cortiços próximos do local de trabalho. No início da década de 1980, surgiram programas com base em recursos próprios, por exemplo, a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbanodo Estado de São Paulo - CDHU, que até hoje constrói moradias populares.

Contudo, com o aumento da demanda por moradias e a consequente pressão sobre os recursos naturais, em sua maioria não renováveis, e sendo a indústria da Construção Civil a que mais retira matérias-primas da natureza, tornou-se indispensável a implantação de empreendimentos de caráter sustentável. Dessa forma, a CDHU, maior empresa pública de habitação do País, começou em 2010 a investir em moradias confortáveis e sustentáveis, ou “verdes”, para, principalmente, melhorar a qualidade do produto oferecido à população. “Incorporamos a ideia de que investir nas casas traria benefícios: para o Meio Ambiente, para a saúde dos moradores, e para a própria CDHU, uma vez que as famílias costumam passar o resto da vida na mesma habitação”, diz o arquiteto Eduardo Trani, chefe de gabinete da Secretaria de Habitação.

Pelo projeto, essas casas terão pé-direito de 2,60 metros, aquecedores solares para a água do chuveiro e medição individualizada do consumo de água. Os aquecedores solares de água não só permitirão que as moradias usem uma fonte de energia renovável alternativa, como também gerarão uma redução no valor das contas de energia elétrica. Para o professor de Engenharia Civil do Instituto Mauá de Tecnologia, Eng. Hélio Narchi, que em 2009 orientou trabalhos de conclusão de curso sobre o tema, o Brasil é um ótimo país para se construírem moradias verdes em larga escala, pois dispõe de abundantes recursos naturais. “Fora a questão do pé-direito, do aquecedor solar e da individualização da água, os alunos da Mauá inferiram que é possível investir em drenagem urbana, aproveitamento de água de chuvas, eficiência energética, condicionamento de ar, reciclagem de material e infraestrutura do condomínio. Tudo com investimento acessível a condomínios habitacionais”, comenta o Prof. Narchi.

O trabalho desenvolvido pelos alunos do curso de Engenharia Civil da Mauá também apontou que algumas tecnologias, como eco-roof - jardim sobre uma cobertura com um sistema de drenagem da água infiltrada, próprio para drenagem urbana – que, embora pareça uma tecnologia nova, existe desde 500 A.C, quando foram construídos os jardins suspensos da Babilônia  ­- é uma ótima opção sustentável. Porém, apesar de ser capaz de absorver gás carbônico, captar água de chuva e servir como isolante acústico e térmico, ainda é pouco empregado por aqui. O motivo talvez seja o pouco investimento brasileiro nessa área.

Projetos como o da CDHU são reconhecidos pelo Sushi, sigla em inglês para Iniciativa para a Moradia de Interesse Social Sustentável criado pela ONU, cujo objetivo é propor medidas para melhorar a qualidade das habitações populares, além de adaptá-las à economia de baixo carbono. Os cursos de Engenharia Civil das escolas brasileiras também incentivam seus alunos a pesquisarem e a proporem alternativas renováveis que contribuam com a sustentabilidade na construção civil, grande descartadora de resíduos, e a discutirem o viver melhor com menos.

O mesmo movimento observa-se em países ricos, como a Dinamarca, que também estuda beneficiar financeiramente quem construir casas "verdes". A ideia é que as pessoas que utilizarem painéis solares e sistema de reaproveitamento de água, por exemplo, paguem menos impostos. Com isso, o governo pretende que, a partir de 2020, todas as novas casas construídas sejam consideradas "verdes". Toda essa preocupação faz sentido, ainda que o custo de uma casa “verde” seja 5% maior que o de uma comum. Num país frio como a Dinamarca, algumas tecnologias de construção podem reduzir significativamente os custos de aquecimento. Por exemplo, as janelas maiores (para obter mais luminosidade natural) e com vidros três vezes mais grossos. Esses vidros, aliados às paredes com cerca de 50 mm,  funcionam como "cobertor" para a casa e reduzem os gastos com aquecimento. Essa tecnologia pode ser usada também para evitar o aquecimento da habitação em países quentes, como o Brasil.

“A grande vantagem da sustentabilidade, além de seu lado ecológico, é que a mesma tecnologia pode ser empregada para diferentes finalidades de acordo com os recursos naturais disponíveis, ou seja, nada se perde, tudo se transforma”, conclui o prof. Hélio Narchi.

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