INFOMAUÁ Mauá
edição 139 - Dezembro de 2022

O desafio da formação de engenheiros para enfrentar problemas sociais e climáticos complexos

Prof. Dr. Roberto de Aguiar Peixoto Eng. Leonardo Sanches Previti Profa. Me. Gabriela Sá Leitão de Mello Prof. Dr. Marcello Nitz

Instituto Mauá de Tecnologia (IMT)

O Brasil e o mundo estão enfrentando uma série de desafios associados a diversos problemas socioambientais complexos, de natureza tanto técnica quanto política. Esses problemas impactam toda a população e abrangem questões cotidianas, como tratamento médico, habitação e disponibilidade de alimentos; sociais, como educação, emprego e desigualdade social; ambientais, como as ocasionadas pelas mudanças climáticas, amplamente discutidas durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2022 (COP-27), entre 6 e 18 de novembro, em Sharm El Sheikh, no Egito. Vinheta - Acontece (desafios na formação de engenheiros) A Engenharia é uma das mais abrangentes para a solução de problemas com o uso da ciência e da tecnologia.

As diversas áreas de atuação profissional devem ser envolvidas na busca de soluções para esses problemas, e a Engenharia é uma das mais abrangentes, pois afeta praticamente todos os aspectos de nossa sociedade, podendo-se, inclusive, dizer que é a face do poliedro das atividades humanas que trabalha para a solução de problemas com o uso da ciência e da tecnologia.

O desenvolvimento proporcionado pela Engenharia tem impactos diretos nas interações sociais e ambientais, muitos dos quais negativos. As consequências socioambientais da Engenharia teriam sido diferentes, se os profissionais da área estivessem mais bem preparados para um estudo sistemático do complexo papel da Engenharia na sociedade,  se tivessem tido maior envolvimento com cientistas sociais e dialogado de forma mais adequada com comunidades afetadas por seus empreendimentos.

Para que a Engenharia dê a sua contribuição para o equacionamento e a solução dos grandes desafios da humanidade, novas competências são requeridas. O envolvimento do profissional da Engenharia como um solucionador de problemas comprometido e cientificamente informado é um apoio fundamental para a sociedade. Logo, a formação em Engenharia deve englobar a discussão do envolvimento dos engenheiros e das engenheiras nos fundamentos éticos, racionais e morais da modificação da natureza.

No Brasil, as novas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) da Engenharia passaram a vigorar em abril de 2019, trazendo avanços com relação à expectativa de formação desses profissionais, privilegiando as competências em vez dos conteúdos e destacando o seu papel social. Segundo as DCNs, o egresso de um curso de Engenharia deve, entre outras competências, ter visão holística e humanista, considerar os aspectos globais, políticos, econômicos, sociais, ambientais, culturais e de segurança e saúde no trabalho, além de atuar com isenção e ter compromisso com a responsabilidade social e com o desenvolvimento sustentável. 

Por isso, o incentivo para trazer a dimensão social à educação superior também está presente na determinação do MEC, de que todo curso deve dedicar 10% de sua carga horária a atividades extensionistas. Essa resolução, de dezembro de 2018, estabelece as diretrizes para a extensão na educação superior brasileira. Vinheta - Acontece (desafios na formação de engenheiros) A Engenharia deve priorizar a solução de problemas complexos, vencer os grandes desafios da humanidade e contribuir para um mundo sustentável.

O Grand Challenges Scholars Program (GCSP), programa do qual os alunos e alunas do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT) fazem parte, criado pela Academia Nacional de Engenharia dos EUA (NAE), também apresentou, em 2008, uma visão ambiciosa do que a Engenharia precisaria entregar para todas as pessoas ao longo do século 21, para assegurar um planeta mais saudável, sustentável, seguro e agradável de viver. Assim, o programa foi criado para que os engenheiros e as engenheiras fossem formados e formadas com as competências necessárias para enfrentar os grandes desafios, tais como: técnica, multidisciplinaridade, viabilidade econômica e empreendedorismo, multiculturalidade e consciência social.

Outra ação sólida implementada pelo IMT é a oferta de atividades curriculares eletivas que buscam desenvolver essas novas competências do profissional da Engenharia e que também estão alinhadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável  (ODSs). Ao todo, são 17 ODSs, estabelecidos em 2015 pela Organização das Nações Unidas, como uma agenda global para 2030. Alguns exemplos são: “Engenheiros sem fronteiras: solução dos problemas globais”, “Eu quero discutir política”, “Ética e Sustentabilidade” e “Igualdade de Gênero”. Na atividade de Ética e Sustentabilidade, por exemplo, tem-se como objetivo problematizar esses dois conceitos diante das demandas da atualidade. Na atividade de Igualdade de Gênero, os estudantes são desafiados a compreender a complexidade do tema, desde a análise de dados oficiais sobre as desigualdades até os conceitos envolvidos nos estudos de gênero e ações que podem reduzir essas desigualdades. 

Dessa forma, uma missão para a Engenharia em todo o mundo, seria a de colocar as necessidades mais imediatas da sociedade num contexto mais amplo. Com isso, acreditamos que uma das ações da Engenharia para que os ODSs sejam alcançados é influenciar a criação de políticas públicas que façam a sociedade avançar em termos de sustentabilidade e solução de problemas socioambientais.

Porém, para isso, o fator “mudanças climáticas” deveria ser considerado nos projetos. Isso passa, portanto, pela construção de projetos pedagógicos que coloquem os engenheiros e engenheiras como atores sociais competentes para resolver problemas complexos, vencer os grandes desafios da humanidade e contribuir para um mundo sustentável, com menos desigualdade social, em que haja alegria de viver. A mudança começa na escola!

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