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Número de engenheiros qualificados no mercado não supre demanda no Brasil
O professor Marcello Nitz afirma que menos da metade dos formandos de Engenharia trabalha na área
Atualmente, existem apenas 583 mil engenheiros registrados no Brasil, número insuficiente para a demanda de mão de obra do mercado.
?O Brasil forma cerca de 40?mil engenheiros por ano, porém menos da metade exerce função técnica, típica de sua área de formação. Essa situação é resultado do baixo crescimento econômico do final do século passado?, afirma o prof. Marcello Nitz, diretor da Escola de engenharia Mauá. E, quando comparado a outros países, a deficiência se acentua ainda mais. A Índia forma 220 mil e a China 650 mil, anualmente.
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) mostra que, até 2020, o Brasil terá de formar aproximadamente 95 mil engenheiros por ano para sustentar um crescimento econômico anual de 4%. Um aumento de 2,5% já exigiria mais de 70 mil profissionais. De acordo com estimativas do primeiro semestre, a necessidade de profissionais na área da construção civil deve fechar o ano com aumento de 2,5% a 5,5%.
Segundo o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA) e o Instituto Nacional de Educação Profissional (INEP), dos 200 mil estudantes que ingressaram em 2010 em cursos de Engenharia, 80 mil abandonarão antes de finalizá-lo. Dos 120 mil restantes, avaliados por instituições de ensino privadas e públicas, apenas 16 de cada 100 estudantes estarão preparados para o mercado e somente 13 de 100 estarão aptos para atender aos padrões do mercado internacional, que é mais exigente.
As mesmas pesquisas mostram que 66% dos vestibulandos ingressam na área de Humanas e apenas 13% em Engenharia. O crescimento econômico, o pré-sal, os eventos esportivos da década e os desafios para o desenvolvimento sustentável têm aumentado a demanda por mão de obra especializada de engenheiros. Porém, há outro problema: a formação dos estudantes. Menos de 30% dos formados em Engenharia de 2008 graduaram-se em instituições consideradas de alto desempenho, com conceito 4 ou 5 no Ministério da Educação (MEC), ainda de acordo com o IPEA. Já 42% deles formaram-se em instituições com conceito 1 ou 2.
As três melhores instituições de ensino de Engenharia do mundo concentram-se nos Estados Unidos; nessa ordem: Instituto de Tecnologia da Califórnia, Instituto de Tecnologia de Massachusetts e Universidade Princeton. Um dos motivos para estarem nesse patamar é o incentivo que os Estados Unidos dão à inovação e ao empreendedorismo. Mas o Brasil também possui excelentes instituições, comparáveis às melhores do mundo. O prof. Nitz acredita que décadas de estagnação e falta de investimento em pesquisa e inovação afastaram as indústrias das instituições de ensino, mas a situação tem mudado. ?Para melhorar seus indicadores de qualidade e produtividade, as indústrias têm aumentado o interesse por parcerias com instituições de ensino e pesquisa. No Instituto Mauá de Tecnologia, os trabalhos com a indústria são feitos por intermédio do Centro de Pesquisas da própria Instituição. A atuação de professores e alunos nessa interação gera reflexos positivos na qualidade do ensino e representa um diferencial importante para o Instituto?, explica.
Não há uma solução para suprir a falta de engenheiros no mercado. Ainda segundo o professor, num cenário com sinais de escassez, seja de quantidade, seja de qualidade, o mercado se movimentará naturalmente, oferecendo melhores salários e atraindo mais jovens para a carreira, já que as remunerações dos engenheiros brasileiros são boas quando comparadas às do exterior. ?A velocidade desse movimento é regulada pela relação entre demanda e oferta. É esperado, porém, que haja defasagem entre a procura de profissionais para o mercado e a quantidade de mão de obra existente?, encerra Nitz.
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