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edição 165 - Agosto de 2025

Guerra da informação: o papel da diplomacia digital no novo cenário global

Professor de Relações Internacionais do Instituto Mauá de Tecnologia destaca o uso estratégico da Tecnologia para construir narrativas e influenciar a disputa de poder

Em tempos de redes sociais e comunicação em tempo real, em que o mundo está cada vez mais conectado no cenário geopolítico, a diplomacia ganhou uma nova dimensão, agora por meio da Tecnologia. A chamada "diplomacia digital" passou a ser uma ferramenta fundamental na disputa por poder, influência e narrativas entre Estados.

. Guerra da informação pode construir narrativas e influenciar no novo cenário global, segundo Rodrigo Gallo, Coordenador do curso de Relações Internacionais.Segundo o professor Rodrigo Gallo, coordenador do curso de Relações Internacionais do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), a diplomacia digital pode ser entendida como o uso estratégico das tecnologias digitais, especialmente das plataformas online e redes sociais, para promover os interesses internacionais de um Estado, construir narrativas, dialogar com públicos globais e reforçar sua imagem no cenário internacional. “Mais do que mera adaptação tecnológica, trata-se de uma transformação profunda na maneira como os atores diplomáticos se comunicam, influenciam e negociam no século XXI. Ela não substitui a diplomacia tradicional, mas amplia suas possibilidades e seus riscos.”

A guerra por narrativas

O uso estratégico da diplomacia digital vai além da promoção institucional e a informação virou instrumento de poder. Nesse contexto, muitos governos passam a usar redes para desestabilizar adversários, espalhar narrativas enviesadas e interferir em processos democráticos.

“Estados têm investido em estratégias de desinformação, bots e perfis falsos para influenciar a opinião pública de outros países, polarizar debates e enfraquecer alianças e governos democráticos. É uma guerra silenciosa, mas com efeitos muito concretos sobre a confiança internacional e a segurança coletiva”, afirma Gallo.

O impacto das fake news

Como explica o professor, esse cenário traz diversas consequências, como o aumento das fake news que, além de interferirem na legitimidade de instituições, alimentam percepções equivocadas que dificultam o diálogo. “A celeridade da desinformação pode agravar crises e inviabilizar negociações. Em crises internacionais, a velocidade com que a desinformação circula pode escalar tensões, alimentar conflitos e inviabilizar mediações”, alerta. O especialista também reforça que diplomatas precisam lidar com a gestão de reputação em tempo real, o que exige novas competências e protocolos frente à volatilidade do ambiente digital.

Potências digitais e novas ameaças

Alguns países têm-se destacado nesse cenário. A Rússia, por exemplo, tem utilizado campanhas de desinformação como parte estruturante de sua política externa. A China aposta na construção de narrativas que favoreçam seu modelo político e sua liderança tecnológica, como registra Gallo. “Já os Estados Unidos, tradicionalmente fortes na comunicação global, têm enfrentado o desafio de manter credibilidade num cenário polarizado. Por sua vez, pequenas nações como Estônia e Finlândia têm investido em diplomacia digital com foco em transparência, cibersegurança e inovação.”

A resposta internacional

O professor afirma que organismos como a ONU e a OTAN vêm tentando reagir, reconhecendo que a guerra da informação é uma ameaça real à paz e à segurança internacionais. “A OTAN já declarou que campanhas de desinformação podem ser tratadas como ataques híbridos. A ONU, por sua vez, tem buscado coordenar esforços multilaterais para combater fake news e proteger os direitos digitais, embora enfrente o desafio de equilibrar liberdade de expressão com segurança informacional”.

Apesar dos avanços em termos de monitoramento, cooperação e conscientização, ele explica que ainda falta um marco regulatório mais robusto e uma capacidade coletiva de resposta rápida.

Para Gallo, o momento exige preparo e visão crítica, num cenário ao mesmo tempo desafiador e transformador. “Precisamos formar profissionais e cidadãos capazes de navegar criticamente nesse ambiente, defender a integridade dos processos diplomáticos e fortalecer instituições. A diplomacia, hoje, não se faz apenas nas embaixadas: ela acontece em tempo real, nas telas, nas redes e no coração das disputas narrativas do nosso tempo”, finaliza.

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