INFOMAUÁ Mauá
edição 131 - Abril de 2022

Os reflexos da guerra na economia brasileira e o que esperar para os próximos meses

Conflito europeu pode causar pressão nos preços e impactar a inflação no Brasil

Balistiero O coordenador do curso de Administração da Mauá, Ricardo Balistiero, lembra que a guerra não afeta apenas o mercado agrícola, mas também todo o setor de alimentos

As disputas entre Rússia e Ucrânia estendem-se há anos, porém agora, com a invasão russa ao país, o conflito tomou novas proporções, atingindo civis e impactando diretamente o mercado internacional. Nesse cenário, a economia brasileira – e mundial – também é afetada.

O doutor em Administração com ênfase em Negócios Internacionais e coordenador do curso de Administração do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), Ricardo Balistiero, explica que, desde o início, o principal reflexo está ligado ao setor de alimentos. “O Brasil compra muito trigo importado e a Rússia é uma grande fornecedora desse cereal. Embora nosso País não compre diretamente o produto russo, o trigo sofreu uma grande alta no mercado internacional, e isso certamente impacta boa parte dos produtos derivados. Então, a primeira tensão vem desse lado.”

Não apenas no mercado agrícola: essa pressão reflete-se também no setor de alimentos.  Tendo em vista que períodos de guerra representam um momento de grande escassez, invariavelmente os preços são diretamente afetados. Segundo o especialista, como o Brasil é um grande fornecedor de alimentos, esses produtos acabam por apresentar um grande aumento em seu valor de mercado, o que vai abalar de forma significativa o bolso dos brasileiros.

Além disso, o conflito também afeta o setor de energia. “Com o preço do barril do petróleo passando os US$ 100, isso vai ter efeitos negativos no preço da gasolina internamente. Assim, podemos considerar esse o terceiro fator que vai gerar inúmeros impactos no bolso dos brasileiros por causa da guerra”, acrescenta Balistiero. Para o professor, essa pressão nos valores monetários é a principal consequência esperada. “Nesse cenário, acontece o que chamamos ‘choque de oferta’, e isso causa a alta de preços, além de influenciar a inflação brasileira. Quando isso ocorre, o Banco Central certamente terá de utilizar a taxa básica de juros como um elemento para poder combater a inflação”, pontua.

Exportação Brasil Com a guerra entre Rússia e Ucrânia, o trigo sofreu uma grande alta no mercado internacional, e isso certamente impacta boa parte dos produtos derivados

O economista também explica que, quando a taxa de juros é utilizada com o intuito de lidar com a inflação, a economia desacelera. “Para os próximos meses, o que nós podemos esperar é uma economia com uma recuperação bem mais lenta do que aquela por nós prevista  e com preços mais altos. E, nesse cenário, não há muito o que os brasileiros possam fazer.”

“A grande expectativa é a de que o governo possa ter políticas sociais para minimizar os custos da guerra e do aumento dos preços, principalmente. Uma possibilidade é buscar soluções focalizadas para subsidiar os preços dos alimentos e combustíveis para a população de baixa renda, que certamente será a parcela mais afetada.” Para o especialista, mecanismos como controle do preço da gasolina não são muito eficazes neste momento. “O ideal é pensar-se  em contribuir com políticas redistributivas, que possam tornar menos pesado o fardo do aumento de preços, que afeta principalmente a parcela mais vulnerável da população brasileira”, conclui Balistiero.

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