edição 79 - Março de 2017
Professor Francisco Olivieri explica que será um ano de tímida (mas positiva) retomada de crescimento
Para o professor Francisco Olivieri, é preciso planejar novos investimentos em modernização e competitividade.
O ano de 2016 foi embora sem deixar saudade para a economia do País. Muitas empresas não sobreviveram à crise econômica e fecharam suas operações no Brasil, assim como muitos indivíduos perderam seus empregos. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileira de Geografia e Estatística), o ano encerrou com aproximadamente 12 milhões de desempregados.
Porém, no segundo semestre, com o impeachment da presidente da República, Dilma Roussef, e a posse de Michel Temer, o País começou a retomar um discreto, mas novo fôlego.
"O ano que se encerrou mostrou que as intenções do governo central se baseiam numa condução mais séria da economia e da gestão monetária, feita pelo Banco Central do Brasil. Esse tipo de atitude influencia as decisões que devem ser tomadas pelos agentes econômicos, por gerar maior confiança no que se refere a investimentos e consumo. Isso é a mola propulsora do desenvolvimento econômico, que começa a aparecer", explica o superintendente geral da Mauá, prof. Francisco Olivieri.
Segundo o prof. Olivieri, 2017 será marcado pelo início da retomada do crescimento econômico. "A retomada será feita de forma tímida, e esperamos que ela se consolide a partir de 2018. Enxergamos sinais de reação em alguns setores da indústria, que esboçam pequeno crescimento da produção, estimulados pela redução de estoques, diminuição das taxas de inflação e da taxa básica de juros, que hoje se encontra em 13% ao ano", acrescenta.
Os empresários e investidores estão em estado de alerta para as tomadas de decisão do governo central. O congelamento de gastos e a reforma da previdência demonstram uma busca pela estabilização fiscal, o que certamente acarretará a diminuição do custo do capital e, consequentemente, impulsionará as decisões de investimento, buscando o aumento da atividade econômica.
"É claro que, em princípio, a atividade vai ser retomada com a utilização da capacidade ociosa, o que não é o bastante, tendo em vista que o empresariado precisa investir em modernização para que a economia brasileira seja competitiva, principalmente no mercado externo, que é o que sustenta a maior parte da atividade econômica. Não dá para viver de mercado interno como supuseram, nos últimos 13 anos, os governantes que estavam no poder", explica.
Desemprego e inadimplência
2017 será marcado pelo início da retomada do crescimento econômico.
O desemprego e a inadimplência são problemas que diminuirão, mas não no curto prazo. A taxa de desemprego que vemos, hoje, beira os 12% da PEA (População Economicamente Ativa).
Considerando um conceito de maior abrangência, esse percentual passa dos 21%, segundo o professor Olivieri. "Não é fácil alocar tanta mão de obra num espaço de tempo curto. Afinal, foram anos de retração econômica. Algumas empresas já contornaram a necessidade de utilização de mão de obra de forma extensiva, com reprogramação de processos. Acredito que a taxa de desemprego deva reduzir-se para patamares em torno de 5%, mas num horizonte de três anos, pelo menos. A isso está atrelada a inadimplência, fruto da perda de renda do trabalhador, que atinge também as pessoas jurídicas que ficam inadimplentes pela redução de consumo", explica.
Inflação, juros e câmbio
A partir do final de 2016, até agora, observa-se alguma desinflação. “Acredito que o processo de redução de preços deva continuar nos próximos meses, tendo em vista que se observa maior seriedade na condução das políticas econômica e fiscal. A consequência natural é a redução das taxas de juros, o que propiciará maior volume de investimentos e a retomada do crescimento econômico”, afirma o superintendente geral da Mauá.
As taxas de câmbio (Real versus Dólar, e Real versus Euro) deverão se estabilizar em patamares não muito maiores que os atuais. Isso ocorrerá não somente por conta de apreciação do real, mas muito por conta da depreciação do dólar dos Estados Unidos da América, cuja política econômica a ser implantada é altamente inflacionária. "Tudo isso gerará a depreciação da moeda norte-americana. Assim como os movimentos separatistas europeus também deverão influenciar a depreciação do euro".
Para o prof. Olivieri, é preciso planejar novos investimentos em modernização e competitividade e, quem sabe, em inovação. "Para que seja possível competir no mercado externo e traduzir os esforços em melhores resultados das balanças comercial e de pagamentos, é necessário inovar e planejar. Vamos trazer mais divisas para o Brasil, mas não como tem acontecido nos últimos tempos. Nossa balança comercial tem sido superavitária a custo da redução das importações e não por conta de um aumento expressivo das exportações. É hora de rever o posicionamento e traçar planos para dar a volta por cima", finaliza.