edição 88 - Dezembro de 2017
Formado em Engenharia Eletrônica pela Mauá, o executivo enfrentou uma série de desafios importantes ao longo de sua carreira profissional
Miguel SussumuJo, presidente da TDK e ex-aluno do curso de Engenharia Eletrônica, conta como cresceu no mercado de trabalho e a importância da graduação ao longo de cada processo.
"Ser engenheiro era um sonho de infância". É com essa frase que Miguel SussumuJo, presidente da TDK do Brasil, conta como começou a construir sua carreira na área de Engenharia ao longo dos anos. "Era um sonho construir uma carreira e contribuir para o País, rotulado, naquela época, como um "gigante adormecido". Entrei na Mauá, em 1978, na turma 17.000, e éramos 500 alunos em busca da realização de seus desejos", conta.
Naquele período, o Brasil atravessava um momento difícil com inflação mensal de dois dígitos e vários planos econômicos que não deram certo. "Imaginem quantos planos econômicos tivemos de suportar. Lembro que, na minha vida profissional, vi cortarem 12 zeros de nossa moeda, mas a economia aos poucos melhorou. O maior desafio para todos os formandos no início de carreira era conseguir uma boa colocação num mercado ainda estagnado. Ao ingressar numa multinacional japonesa, começando na área Comercial e depois atuando na Engenharia, abracei a carreira, numa época de abertura de mercado em que a indústria buscava nacionalização de componentes para produção local", relembra o engenheiro eletrônico.
O executivo ingressou na TDK do Brasil, multinacional japonesa, em junho de 1984, quando a empresa tinha apenas seis anos de mercado e estava em busca de engenheiros para seu programa de expansão. "Aceitei o desafio. Na época, ela era fabricante de núcleos de ferrite para aplicação em bobinas de FI, largamente utilizados em rádios, autorrádios e TVs de tubo (CRT-TV). Iniciei na área Comercial e um ano depois fui transferido para a fábrica em Suzano, pelo diretor de Engenharia, para trabalhar na Engenharia de Desenvolvimento, onde permaneci por 5 anos. Durante um ano e meio na fábrica, aprendi muito sobre ferrite. A TDK importava a matéria-prima do Japão e aqui processava a mistura para formação de núcleos de ferrite e posterior sinterização. Nem tudo foi simples; havia o grande problema da língua e tive de estudar japonês, primeiro o da linguagem técnica e, com muita prática, hoje consigo falar fluentemente a língua", explica.
"Com a abertura de mercado em 1990, o Brasil mudou. Aqui começou a derrocada dos fabricantes de componentes, devido à automação da montagem de placas. As máquinas de inserção de componentes requeriam componentes enfitados e essa tecnologia nós tínhamos no Japão. Foi, então, que saí da Engenharia para assumir um desafio de vender equipamentos de inserção de componentes. Em paralelo, desenvolvi, nas Engenharias de Produto dos clientes, a rápida substituição de componentes a granel para enfitados. Iniciou-se uma verdadeira revolução no processo de montagem em Manaus: saímos de um patamar de 2,5 milhões de TVs para 12 milhões, e houve uma grande expansão de empregos em Manaus. A década de 1990 foi muito promissora e, com a vinda de produção de celulares no País, as vendas expandiram. Porém o ciclo de vida do produto, que era de um ano e meio, passou para seis meses e veio a terceirização, que culminou com a chegada ao Brasil das empresas de CMs - Contract Manufacturers, as quais faziam a montagem de placas para fabricantes de celulares. Foram tantas as mudanças de mercado, que eram necessários rápidos ajustes na política da empresa, ou seja, despendíamos tempo de fazer gerenciamento de riscos, para minimizar prejuízos financeiros."
"Assim, rapidamente tivemos de deixar de fazer estoque local. Em 2003, fomos obrigados a fechar a fábrica, devido à migração de componentes convencionais para smd. Os investimentos necessários eram elevados e não tínhamos mercado que justificasse o investimento. Passamos a revendedores de componentes fabricados pela matriz no Japão e grande parte da China, onde estão grande parte das 50 fábricas que temos espalhadas pelo mundo", pontua.
O grande desafio veio em 2008, quando assumiu como Presidente da TDK do Brasil, meses antes da quebra da Leman Brothers. "Nessa época, era necessário cortar gastos e os clientes não tinham design local. Com um ciclo de vida curto de produtos, o risco de estoque morto era enorme, assim começamos a usar estoque da TDK nos USA para que os clientes importassem diretamente e, infelizmente, tivemos de encerrar a operação em 2013, que marcou o fim do ciclo de produção de TVs CRT(cathode-ray tube). Por não dispormos dos mesmos incentivos fiscais que a indústria recebia e recebe até hoje, e para TDK, sendo revendedora de componentes, não tínhamos condições de competir com o próprio componente TDK importado pelos clientes. Hoje o que mais fazemos é gestão de pessoas e custos, mas poderíamos estar desenvolvendo novos projetos."
"Ter-me graduado na Mauá foi essencial para enfrentar todos esses momentos. Mesmo morando na Zona Oeste de São Paulo e gastando de duas a três horas de trânsito por dia (naquela época), eu tenho certeza de que fiz a escolha certa. A Mauá foi, além de um curso de Engenharia, também uma escola de vida. Uma grande lição que tirei da minha passagem por lá é que saímos sabendo 'pensar'. E isso sempre me deu a sensação de segurança para solucionar problemas, principalmente quando era colocado numa 'sinuca de bico'. Aprendi a encarar os desafios, apesar de pouca maturidade", afirma Miguel.
Ele acrescenta dizendo que, hoje, nota muitos engenheiros formados pela Mauá exercendo cargos de liderança nas grandes empresas. "Vejo executivos muito respeitados no mercado que são ex-alunos da Mauá e isso agrega ainda mais valor para o Instituto Mauá de Tecnologia", acrescenta.
Ao longo de todos esses anos de profissão, Miguel aprendeu também a importância de equilibrar suas atividades no dia a dia. "Hoje, aproveito as horas vagas para me dedicar à família e também para praticar atividade física, iniciativa que reneguei durante muitos anos por me dedicar somente à profissão. Além de ir à academia, também faço natação. Não poderia também deixar de lembrar dos encontros que temos anualmente com amigos que se formaram juntos. Celebramos 35 anos de formados com um grupo muito grande e temos o desafio, na celebração dos 40 anos, de resgatar outros amigos e poder formar um grupo maior ainda. É muito bacana poder trocar experiências e saber como uma amizade é importante para nossa vida. Isso não tem preço!"
"Para a nova geração de engenheiros: nunca se esqueçam de seus sonhos. Lembrem-se sempre o porquê de haver decidido ingressar na profissão e, no exercício da profissão, que o façam com discrição e de forma correta. Estudem. Leiam bastante e estejam sempre atualizados. Não usem o conhecimento para si; compartilhem, troquem experiências, viajem, mantenham sua mente sempre aberta. Pensem em deixar um legado, por pequeno que seja. E, mesmo depois de 35 anos, deixo meu agradecimento a todos os mestres que tiveram paciência com os alunos da minha turma", finaliza.